"Santa Teresa é um jardim suspenso sobre a cidade. Suas ruas são tortuosas e íngremes alamedas, bastião de resistência a reurbanizações insensíveis que modernizam homogeneizando.
Quem está lá no alto, por mais desinteressado ou distraído que seja, não tem escolha: é olhar a cidade, cá embaixo, a seus pés, e ver beleza.
Santa Teresa não é somente um bairro; é o espírito da arte cristalizado em ladeiras, casarões e um ar tranqüilo. Artistas, ali, estão em casa. Com seu jeito quase sempre esdrúxulo, essa gente criativa circula pelo bairro, colhendo aqui e acolá, a inspiração, encontrando-se com as musas, hoje tão arredias nesse mundo de materialidade e pragmatismo.
Em Santa Teresa ainda há muitas flores irradiando beleza e espargindo perfume por entre grades de velhas mansões.
Há muito verde-musgo atapetando alquebrados muros; muitas plantinhas garantem o milagre da vida ao fincar suas raízes nos desvãos das paredes de pedra.
Fugir do burburinho da cidade? É fácil: basta subir uma ladeira, resfolegando porém enchendo os pulmões com um ar mais puro. Aos poucos, o ruído vai cessando e a calma de Santa Teresa nos invade. Para os mais cansados mas nem tão apressados, o bondinho está ali - um convite a relembrar um Rio mais humano e um bairro aristocrático. Com um pouco de imaginação, ainda é possível ouvir o som da música saindo das casas antigas e imaginar elegância e beleza, do fru-fru das saias ao alinhado das casacas.
Pouca coisa é tão gostosa quanto um passeio por Santa Teresa em manhã primaveril, quando os raios de sol, dourados e vagabundos, pintam de ouro o chão de paralelepípedos desgastados pelo tempo. Muito bom também é estar em Santa Teresa num fim de tarde, quando a luz do dia vai esmaecendo e se rendendo à inevitável chegada da noite. Nessa hora, bebericando num dos famosos bares, é possível olhar o Rio lá de cima, desse jardim. Então, de um privilegiado camarote, vê-se a cidade - qual dama que se enfeita para a festa - vestir seu traje de luzes.
Logo, logo, no jardim suspenso de Santa Teresa, as estrelas ficam mais pertinho, pregadas no manto do céu, que parece ao alcance da mão. E uma lua cheia - artista que peregrina pelo espaço - ilumina e prateia as ladeiras, casas e quintais desse bairro tão querido."
J. Carino
- Achei bonito.
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