dezembro 03, 2013

Oi, Tinder!

Venci a preguiça de postar por culpa de uma epifania que tive no ônibus enquanto voltava da faculdade. Não sei se todos conhecem o Tinder (provavelmente conhecem porque o mundo está uma safadeza só); resumindo, é um aplicativo pra Android e iOS que funciona basicamente como um ajudante na "paquera", conectado ao Facebook (fui obrigada a usar aspas porque sinceramente não sei se esse termo ainda existe ou faz jus ao momento social que atravessamos) que indica as pessoas mais próximas passando também informações úteis como fotos, curtidas e amigos em comum. Assim como o Tinder funciona no celular, a internet em si é carregada de sites do gênero e pessoalmente acredito que o Tinder se parece bastante com o Badoo nesse sentido de "passar as fotos e escolher as pessoas mais bonitas"  - ou interessantes em uma realidade alternativa. A única diferença notável é que o Badoo não tinha gente bonita, muito menos interessante. Vá entender o motivo da diferença absurda...

Agora que o Tinder já foi mais ou menos apresentado e parece que eu comecei a escrever pra meter o pau no aplicativo, vou confessar que baixei e usei por um tempo. Ainda não desvinculei meu Facebook então é bem capaz de alguém das proximidades esbarrar com a minha cara por lá. Conheci pessoas da minha universidade, pessoas que moram perto de mim, amigos de amigos, pessoas com simplesmente um gosto musical apaixonante, pessoas nada a ver comigo que acabaram em situação estranha e, pra não ser hipócrita, também conheci gente bonita. Estou caidinha por um indivíduo apresentado pelo Tinder (já vale apostar dinheiro porque com certeza vai dar merda - desculpa o pessimismo se você for ler isso um dia). O legal de às vezes conhecer alguém através de um método desses é que não dá pra saber o que vai vir em seguida: já arrumei companhia pra comer pizza (e apenas isso) num sábado super tedioso e em fim de mês. Aquele dia provavelmente foi a experiência mais digna de um encontro entre seres humanos normais que eu tive desde que comecei a conhecer gente em aplicativos e sites de relacionamento. Ok, vou ser julgada, mas já conheci muita gente assim. Em resumo: tudo furada! Mas ninguém precisa saber disso ainda... 

O que eu quero dizer é que de todo não é ruim. Tem muita coisa a ser considerada antes de desclassificar quem usa um negócio desses. Já vi muitos comentários nas redes sociais do tipo: "mulher que usa Tinder perde ponto comigo". Vamos lá, o aplicativo não é uma coisa muito "limpa" mesmo e nessas horas é bom pararmos pra pensar naquela filosofia que diz que tudo o que pode ser usado para o bem, também pode ser ferramenta pro mal. Não é difícil encontrar histórias de casais lindos que se encontraram nesse mundão enorme através de um chat da UOL, Tinder, Grindr (que é voltado pros homens gays), Brenda (sim, também tem um pra lésbicas), conferências de MSN... meu primeiro namoro, que durou três anos e meio começou por uma conferência no finado MSN e paralelo a isso ele foi a melhor pessoa do mundo comigo até hoje em termos de relacionamento. Não tem nada a ver! É bonito de falar, dá vontade de fazer e seria lindo se não fosse tão raro, pelo menos até onde meus olhos alcançam. O mal do Tinder e "seus primos" é a putaria. Devagar que eu não sou frígida,  putaria! Por outro lado, será que essa proximidade entre usuários, disponibilidade de fotos (em que a mulherada sempre faz biquinho e cara linda, inclusive euzinha) e até mesmo o imediatismo não faz com que maior parte das pessoas acabem procurando e geralmente encontrando apenas um "pente e rala", uma fodinha rápida? É tão difícil construir um relacionamento sólido hoje em dia! Mais do que isso, é dificílimo desenvolver uma conversa que vá além do superficial por aí afora.

O cara que se incomoda com a mulher que usa Tinder assume uma postura defensiva por ter receio de ela fazer parte dessa putaria globalizada que os aplicativos de relacionamento proporcionam na maioria das vezes. Parece machista mas o mesmo se aplica aos homens, pelo menos nos meus pensamentos aqui. Eu não tenho a menor intenção de discutir a liberdade das pessoas em fazer o que bem entendem até porque se eu quiser fazer uma orgia daqui a pouco, sou completamente livre pra isso. O que eu queria pensar aqui é em como as pessoas mal se conhecem e já partem pra intimidade, constantemente. Não é uma vez ou outra, não é esporadicamente, é toda hora, é quase sempre. Esse sexo fácil está endurecendo as pessoas e eu vejo que cada vez mais nós pegamos nossos sentimentos, guardamos numa caixinha e assistimos a vida passando porque dar uma chance a outro ser humano, mais uma vez, passível de erros... ah, isso é complicado demais. O sexo é simples e provavelmente não vai doer. Escolher o lado superficial da coisa é não dar bola pro azar, não abrir oportunidade pra dar merda toda de novo (porque aqui entre nós, o amor ou qualquer coisa parecida com isso dá merda pra todo mundo pelo menos uma vez na vida - e é essa vez que geralmente suga toda a nossa vontade de tentar de novo).

Voltando ao principal, já que me empolguei tanto falando de como as pessoas só transam, transam e não ligam pra experiência de conhecer o outro, hoje eu desisti do Tinder, do Badoo, de tudo. Enquanto voltava pra casa com meus pensamentos felizes sobre a vida, notei, pelo vidro da janela do ônibus, o cara da minha frente escolhendo as mulheres no Tinder e isso me deu um mal estar tremendo! Parecia fruta na feira, sabe? Ele abria, analisava as fotos e era isso aí mesmo. Engraçado que quando eu fazia isso, sempre procurava descobrir o gosto musical antes de dizer se gosto ou não da pessoa... sinceramente isso é mais importante do que fazer uma faculdade ou ser bonito. Homem pra mim é questão de honra ouvir música boa ou pelo menos conhecer bons livros. E o que o cara fazia? Analisava as fotos de rosto, de corpo e tchau! Na mesma hora pensei o quanto eu não gostaria de conhecer alguém dessa maneira: que viu minha cara, meus peitos e resolveu que vai me levar pra beber cerveja e dar uma trepada quando eu já estiver altinha. Eu sou incurável, eu vou atrás de mais do que isso na vida, sempre fui. Já levei na cara o bastante por isso e ainda não desisti! Quero viver num filme americano em que as pessoas têm encontros durante tempos e tempos, aquela coisa toda...

A verdade é que de um jeito de outro, todo mundo quer ser feliz. Transando ou fazendo algo mais profundo, todos queremos encontrar a felicidade em algum lugar, mesmo que seja num copo de cerveja, como geralmente é o meu caso, ou em transar com um monte de gente porque isso realmente faz bem pra cabeça. Enquanto transa não tá pensando que a vida é uma desgraça. Ninguém gosta de ficar sozinho. Em busca dessa companhia de aventuras a gente faz muita besteira, sou autoridade no assunto e livre pra argumentar sobre isso. As pessoas mais fodas estão perdidas por aí e tudo é uma surpresa, não dá pra saber; as pessoas mais fodas provavelmente não estão nas boates. Em que porra de lugar elas estão? Também não dá pra saber. Aí surgiu o Tinder, o Grindr, a Brenda e todo mundo parece legal. Isso é um pouco desconcertante, sei lá... sinto que a dificuldade de conhecer pessoas ao vivo está nos deixando meio desorientados e ligeiramente antissociais. Minha professora de Filosofia falou sobre a "cola" que aproxima as pessoas quando se conhecem e a dificuldade pra "colar" quando o meio virtual faz essa aproximação. A gente pode até acabar por aqui dizendo que o que falta é a "cola". Pra mim o que falta é o todo, é a sensação de que a felicidade de dezembro não tem fim. Depois de hoje eu decidi que se não der certo agora, não quero mais procurar em lugar algum, físico ou não. Vou desenvolver teias de aranha na boca e mais embaixo pelo simples fato de que eu quero ter a emoção de esbarrar em alguém na rua e me sentir numa novela com aquela troca de olhares tão forte que nem o mais foda dos aplicativos consegue imitar.

É isso, adeus Tinder. Foi bom enquanto durou.

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