"I'm gonna steer clear
Burn up in your atmosphere
I'm gonna steer clear
Cus I'd die if I saw you
I'd die if I didn't see you there
All the street lights say 'nevermind'
All the canyon lines say 'nevermind'
Sunset says 'we see this all the time, nevermind'
Where ever you go
Where ever you are
I watch your life play out in pictures from afar."
Escrevi um texto gigante, apaguei. Queria ter uma coisa nova pra te dizer mas acho que na verdade não tenho. Se você quiser pular pra parte de excluir tudo sem ler, esse é o momento: não tem nada de novo aqui e eu escolhi te mandar um e-mail exatamente pra não saber se você leu e ignorou ou só excluiu, mas com sorte você vai guardar isso pra sempre e um dia ler e lembrar de mim quando eu não estiver mais aqui. Não precisa pensar de novo em quantas vezes você me mandou sumir e disse que não quer saber, eu já sei, já ouvi, não sou cega e até acredito em você. Mas será que você tem alguma ideia do quanto é difícil apagar de todos os lugares, inclusive dos pensamentos rotineiros uma pessoa que esteve do seu lado todos os dias? Isso é quase como ficar viúvo. Provavelmente não vai ser assim nem se um dia eu me casar. Provavelmente nunca mais vai ser assim. De todas as pessoas que passaram pela minha vida, incluindo amigos (e quem sabe até animais domésticos), você foi com quem eu mais me abri e menos tive medo, mesmo às vezes sabendo que ia dar merda eu também sabia que a gente daria um jeito em qualquer coisa que viesse e isso vai além de companheirismo, é quase empatia. Duas pessoas tão diferentes e que não têm nada a ver não deveriam ter isso. A primeira coisa em que eu penso é em sair correndo pra te contar que coisa legal eu vi na internet ou o que aconteceu de bom ou ruim durante o dia, e agora, ao invés de abrir uma janela ou pegar o celular, só tem um vazio com o qual eu preciso lidar me esperando. Eu sei que você deve estar aí pensando nos milhões de amigos e conhecidos que eu tenho, uma "novidade": nenhum deles pode ser você, nenhum deles vai me fazer sentir tão "em casa" como eu me sinto com você; porque eu não consigo, não quero, não me interesso, nem sequer cogitei isso um dia. Você se tornou o meu melhor amigo e quebrar isso de um dia pro outro é mais doloroso do que terminar qualquer namoro. Sabe o que eu fiz no dia do Iron Man 3 com os meus "queridos amigos"? Chorei simplesmente o filme inteiro. Porque aquilo ali era nosso, nosso escapamento do tédio, nosso meio de parar de brigar aquecendo um ao outro no frio do cinema, nosso programa de final de semana quando você trabalhava e não dava tempo de fazer nada além de comprar chocolate e correr pra assistir a última sessão, minha alegria em te ver assistindo uma coisa que você adora e sorrindo como se fosse criança no meio do cinema; o seu riso me fazia rir também, mesmo que eu não soubesse de todas as histórias mirabolantes que você me contaria no final do filme. Naquele dia ninguém contou e eu saí da sala calada pensando em como teria sido com você lá, do jeito que a gente combinou sem combinar, tanto tempo antes.
Não tem sido fácil me acostumar com espaço na cama nesse frio da porra que vem fazendo, não tem sido fácil não sair da minha casa nos sábados (aqueles que você achava que eu tava na putaria quando na verdade eu tava em casa chorando, olhando pro telefone e me sentindo um lixo) só pra comer pizza e dormir vendo filme no seu colo, não tem sido fácil trocar o seu braço pelo meu travesseiro e o cheiro do seu suvaco pelo do meu cabelo. Nem uma nuvem conseguiria me fazer dormir tão bem quanto a certeza de dormir e acordar do lado de alguém no mínimo familiar com a liberdade de roncar, babar, peidar, rolar na cama e chutar; de todas as coisas que você fez ou poderia ter feito por mim, definitivamente o me abraçar antes de dormir foi a melhor delas e a que mais vai fazer falta, por isso eu trouxe o sapo cujo nome eu dei em sua homenagem pra dormir comigo e não me deixar esquecer tão cedo de como é o cheiro do seu corpo, do seu quarto, da sua casa, das minhas memórias. Lamento que eu tenha sido tão egoísta e não te abraçado pra dormir tantas vezes como você fez comigo, lamento por todos os carinhos que por algum motivo eu deixei de te dar... o grande defeito da vida da gente é nós acharmos que ainda vai dar tempo de fazer tudo. Um dia a gente morre, o tempo acaba, as pessoas vão embora, e ficou faltando coisa. Agora mesmo não tenho mais todo o tempo do mundo pra te segurar, te agarrar e te beijar nas costas de todas as formas que eu gostaria de ter feito antes de te perder. Se eu escrevesse aqui sobre cada dia que eu lembro de ter passado do seu lado, seria de novo mais de um ano escrevendo, lembrando, sentindo falta. Será que você já se deu conta da dificuldade disso? Eu não sei como você consegue! Num dia você está lá de boa no banheiro raspando os pentelhos de uma pessoa que é praticamente a sua família e algum tempo depois isso precisa ser deletado da sua memória e não existe outra atitude a não ser declarar inimizade à alguém que lavava suas costas no banho. Eu não sou uma máquina, sabe? Não vou acordar um belo dia e me fingir de apaixonada por um outro alguém pra ver se cola, eu não vou enfiar ninguém aqui pra preencher um buraco e eu poder dizer que tudo está indo bem de novo. Queria muito mesmo sorrir pras suas decisões e não parecer uma louca doente, muito menos sentir esse vazio que elas deixaram. Eu sei que você não quer saber, eu sei que você não liga, que por você eu poderia até piorar e morrer pra te deixar em paz. A única coisa que eu não sei é como você conseguiu fazer isso tão rápido. Parece impossível desistir e deixar pra lá o meu melhor amigo e a pessoa que eu mais amo nesse mundo, como se isso fosse pouca coisa e qualquer um pudesse ocupar esse lugar. Nem os almoços de domingo em casa são os mesmos sem ter que falar pra minha vó que você não quer comer e voltar pro quarto pra dormir e transar depois do almoço. Desculpa nunca saber jogar tudo pro alto assim, desculpa ser essa bagunça e ter te mostrado isso com tanta força até você deixar de gostar de mim, sem você eu só consegui me superar em piorar cada vez mais das depressões, das besteiras, de tudo. Eu não desisti e nem desistiria de você, mas não é como se eu tivesse mais alguma coisa pra fazer, toda vez que eu tentei me aproximar, eu também me afastei, seja de tristeza por ser sempre recebida com pedras ou de raiva por você sempre ignorar o fato de eu estar lá fazendo qualquer merda que diga que eu sou completamente errada mas que estou sempre pronta pra dar a cara pra bater.
Enfim, se um dia mudar de ideia ou sentir a minha falta, vou estar no mesmo lugar esperando por você. Com todo amor do mundo. E caso isso não aconteça, que você tenha mais sorte e encontre a felicidade que tanto procura. Eu te amo muito. Com todos os seus defeitos que eu odeio, com todas as suas qualidades que me apaixonaram repetidamente durante esse tempo... eu sempre te amei, mesmo antes de te conhecer de verdade. E isso não vai mudar agora nem nunca. Só se cuida, continua bem, por mim também, que não sei fazer isso sozinha. E agora eu descobri o que me fazia ouvir aquela música que eu copiei lá no começo e lembrar de você: a letra dela é quase tudo que nós fomos um dia e vamos ser daqui pra frente. Nunca vou te esquecer, não importa pra onde eu vá. E vou estar sempre aqui, de um jeito ou de outro. Desculpa te mandar isso e até um dia, quem sabe, meu amor.
Ultrapassei o limite de caracteres de qualquer ser humano normal, mas desabafei, e com vigor.
Ultrapassei o limite de caracteres de qualquer ser humano normal, mas desabafei, e com vigor.
Um comentário:
Pus o meu sonho num navio
Cecília Meireles.
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
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