Jogada na cama, por alguns minutos acabei olhando diretamente pra uma foto nossa, colocada cuidadosamente num porta retratos que pudesse ser visto da minha cama. A ideia seria olhar bem pra ela todas as noites antes de dormir e lembrar de quantas alegrias aquela foto estava cercada. Desde o dia em que tudo aconteceu ao contrário (seus amigos foram e você ficou) até o momento em que o porta retratos cor de rosa veio parar no meu quarto. Aquele dia parecia tão surreal que por alguns minutos tudo deve ter sido um sonho de verdade, inclusive o sorriso quase escondido captado pela destreza do fotógrafo (?).
A verdade é que apesar de ter virado a foto pra um lugar estratégico, nunca perdi muito tempo observando-a; não como hoje. Não pareciam as mesmas pessoas de outro dia, como se muitos anos tivessem se passado em algumas horas.
Era tão distante e tão doloroso ver uma imagem que não existe mais. Lembrei-me de algo parecido com felicidade e de ter estado feliz quando bateu uma saudade, uma melancolia. Não era uma fotografia qualquer sem significado, mas naquele momento eu conseguia enxergar claramente a diferença entre o que passou e o que vai vir. As coisas mudaram tanto! A atmosfera de novidade, as esperanças, a crença boba de que seria dessa vez... não dá pra explicar exatamente o que senti por um minuto quando levantei os olhos e encontrei aquela fotografia no alto. Da mesma forma que não dá pra explicar a distância que eu sinto em relação a um porta retratos que agora descansa em cima das minhas pernas. Nunca fizeram tanto sentido os laços invisíveis da fotografia de uma música que ouvi. Talvez esse seja o único jeito de explicar: lá haviam laços invisíveis que só a memória consegue perceber. Deve ser por isso que as pessoas guardam fotografias, é o único jeito de se lembrar de que nem todos os dias foram de tempestade.
Não consegui pensar em nada melhor, sinto muito.
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