outubro 28, 2009

E o próximo instante, eu sei, ...


- (...) é quase lá.
(Fez-se mar - Los Hermanos)



Minha mãe não percebeu ou ainda não se convenceu de que uma coisa vergonhosa aconteceu no sábado.
Todo mundo me julga forte e capaz de esquecer tudo, mas porra, eu não sou assim ;)
E o assunto em questão não é aquele tesão de moreno que vocês já sabem quem é rs (ah, bem que eu poderia dar uma passadinha lá mais tarde... mas... com qual desculpa? ><')!

É que ela não soube onde enfiar a cara quando disseram algo do tipo quem diria, essa menina ia ser abortada e já vai fazer dezoito anos! Acho que me senti mais envergonhada do que ela - na frente dos conhecidos da minha avó, que papelão!
Meus pais não me queriam e por isso estou há quase dezoito anos na barra da saia das minhas avós. Não que isso seja ruim; enquanto a mamãe dava que nem chuchu na serra, eu tive avós pra me darem leite morno e um livro pra ler antes de dormir. Pensando positivamente, foi melhor do que ser uma criança largada ou crescido burra e preguiçosa, traços fiéis do meu pai :x

O único problema que vejo, agora que o tempo deixa explícita a sua passagem é o dia em que eu não tiver mais avós. Meus olhos se enchem de lágrimas quando penso que elas certamente vão morrer antes da minha mãe e eu vou ficar aqui sozinha com alguém que eu não suporto. Pode não parecer, mas a minha mãe é o tipo de pessoa que apenas aponta as falhas alheias, e isso é fácil demais quando a gente põe a culpa nos outros e nunca assume que faz merda também.
Não gosto de rezar, mas sempre que posso rezo muito e peço à Deus que dê uma vida muito longa pras que me criaram - vou precisar delas até o dia em que eu tiver equilíbrio emocional e uma família só minha. Vou precisar delas pra seguir em frente sempre =)


E pensando sobre esse lance de criação, imagino como poderia ter sido se alguém tomasse a decisão errada de me entregar na mão dos meus queridos pais fudedores e irresponsáveis.
Com certeza eu não seria o que sou hoje se tivesse sido criada pelo meu pai - ele não é uma pessoa ruim, mas eu não queria ser como ele. Às vezes não gosto do fato de terem separado a gente, mas hoje vejo que isso foi pro meu bem e não sinto raiva ou mágoa de quem fez isso... as pessoas da minha família são espertas e inteligentes e nem o sobrenome dele eu tenho; graças à minha avó rs
Se eu tivesse sido criada pela minha mãe, seria muito mais carente do que o atual e certamente seria depende de psicólogos. Teria passado a minha infância inteira aturando os namorados dela e confrontando uma figura paterna que vive mudando de cara, se é que você me entende ;)

E, finalmente... eu! Desprezando o fato do aborto porque senão eu não estaria aqui, alguém fez o certo quando eu não podia abrir o berro e escolher tudo sozinha. Minha família inteira ajudou a me criar, nunca passei necessidade, tenho tudo que uma menina da minha idade precisa, e além disso, planos para o futuro! Planos estes que só tive condição de imaginar porque fui bem educada, estudei em bom colégio e mesmo não aproveitando todas as oportunidades, tenho base pra chegar em algum lugar :)
Se eu não fosse dividida entre alegria, tristeza e melanconlia, não sei quem eu seria! Muitos fatores foram responsáveis pela minha personalidade hoje e sei que não conseguiria o mesmo resultado numa história de vida mais ou menos mudada. Não sei quem eu seria se não tivesse descoberto o escárnio de Machado de Assis, as constelações que conheci, a bailarinha que dança na caixinha de jóias... se eu não tivesse sido criada aqui nesse ambiente, não seria essa aqui, que eu adoro e aprendi a conviver!
Não tenho raiva, não odeio... mas sinto pena da minha mãe por ter escolhido o momento errado pra me amar. Ela nunca quis uma filha, e sim uma amiga nova pra compartilhar assuntos sobre homens - a melhor parte ela já perdeu, que é ver um filho crescer! Muita gente também já perdeu e eu entendo que as pessoas sejam ocupadas demais pra prestar atenção em suas crianças. Mas certos laços não se formam passado um tempo... assim como depois de "velha" é impossível que eu passe a gostar de um pai que andou sumido durante anos.
Minha família é quase inexistente, é diferente, estranha... quando eu crescer não vou querer ter uma família assim. Mas com certeza quando eu crescer, espero educar meus filhos tão bem quanto fui educada. É a melhor coisa que eu posso levar o dia em que eu resolver me mandar dessa casa aqui: a educação que me deram, a vontade de correr atrás da minha própria vida, os cuidados que tiveram comigo, o primeiro livro que me compraram... os princípios. Serão com estes princípios que eu ainda vou fazer muita coisa nessa vida! E já tenho até uma coisa nova em mente...

Ufa, desabafei!
Obrigada por tudo vovós *-*'

2 comentários:

Labrador Tarja-preta disse...

É, chorei... vc conseguiu se superar nas próprias palavras... escreveu muito bem!
Não tem oq comentar =S...
Mas, conta cmg sempre ok!

Marcelo Guzzon disse...

lindoo!! meus olhos encheram-se de lágrimas...muito bonito e que bom que vc ve o lado bom dessa história toda.otimismo acima de tudo =D
Se precisar estou aqui ;)